quarta-feira, 23 de abril de 2008

OLHAR O PASSADO


A minha Mãe sempre foi uma mulher independente, basta dizer
que sempre trabalhou e teve o seu próprio dinheiro.
No século passado nos anos 30 uma mulher trabalhar e gerir o
o seu dinheiro não era normal. O normal seria não trabalhar e
se por acaso o fizesse o ordenado ir direitinho para os bolsos do
marido e depois andar a "mendigar" uns tostões para comprar
um vestidinho ou uns sapatinhos.
Ela independente por natureza, devia sentir uma grande tristeza
por uma parte dessa independencia ser-lhe roubada primeiro por
um pai dominador e autoritário e depois por um marido ciumento
e possessivo.
Com o pai ela teve forças para lutar, primeiro namorando aquele
que viria a ser seu marido (depois acabou esse namoro por pressão
paterna) e depois acabando um noivado esse sim bem visto pelos
pais, para voltar de novo ao antigo namorado e casar sem o consen-
timento e benção dos pais.
Mas este casamento apesar de ser um casamento por amor não foi
um casamento feliz. Acho que foram felizes os primeiros anos mas
isso eu não me lembro, só me lembro dos maus tempo em que as
agressões fisicas e verbais eram uma constante.
O meu pai morreu novo e então pude ver a minha Mãe a ir com a
sua vida para a frente, a criar dois filhos com dificuldades é certo,
mas também feliz a gerir a sua vida da maneira que ela gostava e
queria. Nunca mais entrou nenhum homem na sua vida. Para ela
felicidade era não ter de receber ordens de ninguém. Se queria
sair e passear fazia-o. Se nas férias tinha dinheiro para viajar
não pensava duas vezes, lá ia ela ver aqueles sítios que tantas
vezes ensinou ao seus alunos onde se situavam nos mapas de
Portugal e Europa.
E que ninguém lhe desse ordens. Ainda hoje a vejo a dizer:
"Em min ninguém manda".
E enquanto as suas faculdades mentais o permitiram nunca
mais ela deixou que alguém interferisse na sua vida.
A duras custas aprendeu que a sua felicidade não denpendia
de um casamento nem de um homem e que ser feliz só depen-
dia única e exclusivamente da sua vontade.
A min ensinou-me a ser livre e independente.
Mandou-me estudar para fora e sempre me disse para eu tra-
balhar e não depender financeiramente de ninguém.
Hoje se fosse viva não ia gostar muito da minha cobardia.

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